.

Intruso no Labirinto

Jorge Queiroz

Curadoria Miguel von hafe pérez

21 SET – 30 NOV 2025

Entrada gratuita

Jorge Queiroz é um artista com um universo absolutamente singular: na sua obra o desenho e a pintura entrelaçam-se e contaminam-se continuamente. Os seus trabalhos invalidam as clássicas noções de figura-fundo, de profundidade ou perspetiva, impondo-se como ficções por vezes oníricas onde personagens, natureza (ou seus apontamentos) e arquiteturas se fundem num magma fantasmático e visualmente arrebatador.

A exposição no CAV, intitulada Intruso no labirinto percorre um percurso de vinte e sete anos de trabalho, onde a consistência e a obliteração de uma cronologia sequencial sublinham o modo como estas obras se ancoram numa mundividência absolutamente idiossincrática.

Nos seus trabalhos, onde imperam um rigor e uma opulência formal que determinam a sua posição única no contexto da arte contemporânea portuguesa, aferimos com agudeza a possibilidade da arte se impor como contracampo de uma crescente banalização da imagem.

Intruso no labirinto: o trânsito entre uma opacidade desconcertante e a possibilidade de uma transpa- rência absoluta ancora a imagem na sinuosa via da coisa mental. As palavras metamorfoseiam-se em derivas visuais que cada um constrói a partir das suas experiências e referências. Será o intruso no labirinto o espetador?

Jorge Queiroz determina o peso do pensamento. Dá-lhe forma e tempo num contínuo informal e sem horas. As evidências são os desenhos e as pinturas que de alguma maneira se vão contaminando num devir multidirecional. O labirinto é a própria história da arte, são imagens cinemáticas ou narrativas literárias, o acaso e o fluxo de pensamentos estruturados ou clarões tão intrigantes quanto desafiantes da racionalidade domesticada.

Nele, a palavra não é sinónimo de clareza hermenêuti- ca. Os títulos tanto podem explicitar como orquestrar desvios de indeterminação. A verdade, aqui, é a pintura ou o desenho. São os acontecimentos que ocorrem na bidimensionalidade dilacerada. A pulsão de uma abs- tração prevalecente está continuamente a ser posta em causa pelo recorrente advento de uma figuração distante do real (enquanto entidade de reconhecimen- to putativamente reconciliadora).

Se num Georges Méliès a imagem constituía uma folia em torno do movimento, na pintura de Jorge Queiroz
o movimento (por vezes voraz) encontra-se obrigatoriamente cristalizado numa imagem só: mas radica num todo processual. Daí este sentimento de estarmos perante um corpo de trabalho mutante e diversificado que, enquanto oxímoro, é um só na sua alteridade.

O labirinto e o intruso. As respostas ao modo como cada um convive consigo têm infindáveis declinações. Oferecem-nos tiranos e heróis, mas num espanto que nos faz ainda mover por estes territórios, oferecem ainda possibilidades de acreditar na arte. Não com um sentido redentor, não com uma qualquer agenda panfletária, infinitamente não como produto de especulação material, mas sim como coisa-em-si que não tem substituto artificial.

Desenho, vídeo, pintura, uma escultura que é um dispositivo para a visualização aproximada da imagem e uma “instalação” (A Queda de um Anjo) criada durante o processo de montagem da exposição. A coisa-em-si agora apresentada é uma aproximação possível a este artista. Como tal, agradeço-lhe profundamente a confiança que me concedeu para trabalhar a partir de uma exterioridade que não lhe é muito convencional.

Inauguração 20 de Setembro, sábado,  às 22h. 

Patente até 30 de Novembro. 

Entrada Gratuita

Imagem: Land of a certain quantity, 2003. Cortesia Jahn und Jahn, Lisboa | Munique; VG Bild-Kunst

©Photodocumenta

“Sem título, 2001 | Col. Fundação de Serralves – Museu de Arte Contemporânea, Porto. Aquisição em 2017. Foto © Filipe Braga | Cortesia Fundação de Serralves, Porto